25.3 C
Manaus
quinta-feira, abril 18, 2024

Caminhada pede inclusão de pessoas com síndrome de Down e denuncia obstáculos

Pessoas com síndrome de Down e parentes fizeram uma caminhada hoje (20) no Rio de Janeiro por inclusão no mercado de trabalho e na educação, e pelo fim do preconceito. O ato ocorreu na Praia de Ipanema, no Posto 8, e teve a presença da Ouvidoria do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que colheu denúncias que poderão fundamentar futuras ações.

As famílias presentes caminharam pela orla, fizeram panfletagem e soltaram balões com o apoio do Movimento Down e do Grupo RJ Down, que reúne familiares e interessados na inclusão. Com síndrome de Down e integrante do Movimento Down, Breno Viola, 35 anos, é ator e lutador de judô. Ele pediu inclusão no mercado de trabalho e deixou uma mensagem de otimismo.

“Isso aqui é calor humano. A gente não é diferente de ninguém. Sinto um aperto no coração quando falam que esse país não tem jeito, mas tem jeito, sim. Se cada um fizer um pouquinho”, disse. “A gente precisa pôr mais pessoas nas empresas; e as empresas, aceitar a lei. Pessoas com deficiência têm de trabalhar. Quem nega isso tem de ser preso.”

A reclamação mais recorrente dos pais que procuraram a Ouvidoria do MPRJ, segundo a coordenadora do centro de Apoio Operacional das Promotorias de Tutela Coletiva de Proteção à Educação, Bianca Mota de Moraes, é a falta de mediadores nas escolas públicas e particulares. Esses profissionais dão apoio ao aprendizado de estudantes com síndrome de Down.

“Tem sido uma queixa bem recorrente. Percebemos que várias representações foram feitas, e o Ministério Público já vem agindo em relação à falta de convocação desses agentes na rede municipal de ensino [do Rio de Janeiro]. Quem sabe, seja possível até uma distribuição de ação civil pública”, diz a promotora. Ela afirma que as escolas públicas não têm oferecido barreiras à matricula, mas enfrentam problemas estruturais como a falta de profissionais especializados.

Discriminação

A costureira aposentada Margarida Maria do Nascimento reclama da dificuldade de o filho de 24 anos com Down entrar no mercado de trabalhoTomaz Silva/Agência Brasil
A costureira aposentada Margarida Maria do Nascimento reclama da dificuldade de o filho de 24 anos com Down entrar no mercado de trabalhoTomaz Silva/Agência Brasil

Nas escolas particulares, o problema pode ser ainda pior, com o impedimento da matrícula ou a cobrança de taxas adicionais, práticas proibidas pela nova Lei Brasileira de Inclusão, em vigor desde janeiro. Esse é o problema enfrentado por Jussara Maria da Silva, de 49 anos, moradora de Nova Iguaçu. Seu filho de 4 anos, Miguel, tem síndrome de Down e está desde o ano passado matriculado em uma escola particular sem a presença do mediador.

“No primeiro ano não perguntei nada, porque queria ver como ia ser a adaptação dele. No segundo ano, quando fui fazer a matrícula e perguntei sobre o mediador, a direção da escola alegou que, para ele ter o mediador, eu teria de contratar uma pessoa especializada”, conta a técnica de enfermagem. Ela ouviu ainda que o investimento “seria alto para uma pessoa ficar com apenas um aluno”.

“Se ele tivesse tido uma mediadora no ano passado, teria aprendido muito mais”, lamenta Jussara. Ela procurou outras escolas, mas muitas vezes ouviu que as vagas para crianças com necessidades especiais já estavam ocupadas: “Eles alegam que a criança especial é responsabilidade do governo. Eu falo que não. Não é do governo, é de todos nós. É minha, como mãe e familiar, da escola, de todos. Todos são responsáveis.”

A costureira autônoma Margarida Maria do Nascimento, de 63 anos, tenta há um ano conseguir um emprego de jovem aprendiz para o filho Israel Nascimento, que tem Down e está com 24 anos. Ela afirma que muitas empresas usam a inclusão para agregar valor a suas marcas, mas impõem dificuldades quando efetivamente precisam incluir uma pessoa com Síndrome de Down: “Quando a gente se propõe a fazer o cadastro, aí a postura da empresa é outra. Aí, cobram da gente coisas que não têm de cobrar”, diz.

Denúncias de descumprimento da nova Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015) podem ser feitas à ouvidoria do Ministério Público do Rio de Janeiro pelo número telefônico 127, no site da Ouvidoria (http://www.mprj.mp.br/web/internet/cidadao/ouvidoria/sobre-a-ouvidoria), ou pessoalmente, na sede do órgão, que fica na Av. Marechal Câmara, n.° 370, no centro da cidade. O horário de atendimento vai das 8h às 20h em dias úteis.

Fonte: Agência Brasil

spot_img

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui