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quinta-feira, março 28, 2024

Frente Amazônica manifesta apoio a tribos isoladas no Vale do Javari

Em meio à pandemia global de Covid-19 que afeta nações sem distinção, a Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (Famddi) manifesta preocupação ainda maior com a população indígena, especialmente tribos isoladas no Vale do Javari (AM), onde missionários evangélicos tentam o contato forçado, utilizando-se de violência, intimidação e terrorismo contra organizações indígenas locais.

Em nota, a Famddi lembra que lembra que a “vulnerabilidade em que se encontra a maioria dos povos indígenas da Amazônia e, de modo geral, do Brasil está diretamente associada à histórica política governamental de negação dos direitos dos indígenas”, o que, por si só, já constitui em grave violação a Constituição Federal, mas que se torna ainda mais preocupante neste contexto de pandemia, uma que o vírus é mais devastador para povos originários, com pouca resposta imunológica.

A ausência de uma infra-estrutura de saúde próxima aumenta ainda mais o risco, devido à agressividade de alguns casos de Covid-19, que demandam internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e respiradores.

Em busca de autorização para entrar na TI Vale do Javari, documento exigido pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para que representantes do movimento possam adentrar a região, o Movimento Novas Tribos do Brasil, renomeado Ethnos360, invadiu a sede da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) no último dia 25 de março, sob ameaça de atear fogo na entidade.

Diante dos fatos, a Famddi manifesta solidariedade à direção da Unijava e aos povos do Vale do Javari, bem como “denuncia à sociedade brasileira e à internacional a onda de ameaças, de invasões e assassinatos de indígenas no Brasil, a inação do Governo Federal na tomada de providências efetivas, o que o transforma em cúmplice e se traduz em reforço à impunidade”.

Como conseqüência desta realidade, a rede de entidades aponta ainda o assassinato crescente de lideranças indígenas, citando o professor Zezico Rodrigues, do povo Guajajara, morto no dia 31 de março, na Terra Indígena Arariboa, município de Arame, no Maranhão.

Confira a nota na íntegra:

Impunidade incentiva ameaças e mortes

A profunda vulnerabilidade em que se encontra a maioria dos povos indígenas da Amazônia e, de modo geral, do Brasil está diretamente associada à histórica política governamental de negação dos direitos dos indígenas. Aqueles conquistados por lutas seculares, onde milhares de indígenas foram assassinados em longo período de práticas genocidas, e, desde 1988, garantidos pela Constituição Federal estão, hoje, ameaçados por iniciativa da Presidência da República que incentiva atos de violência contra as comunidades indígenas e quilombolas.

A invasão da sede da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), instalada no município de Atalaia do Norte (AM), no dia 25 de março, pelo pastor Josiash Mointye, dos EUA, com objetivo de obter forçadamente autorização de ingresso na Terra Indígena Vale do Javari. É parte dessa orquestração, colocada publicamente em recorrentes falas do presidente do Brasil

Reportagens publicadas e compartilhadas oferecem uma série de informações sobre o movimento ameaçador articulado pelo pastor e o missionário Andrew Tonkim, do Movimento Novas Tribos do Brasil, renomeado Ethnos360. Citamos as matérias da revista “Época”, edição de 28/02/2020, sob o título “Missionários compram helicóptero para evangelizar índios”; de “O Globo”, em 24/0/2020, atualizada em 26/03/2020 -“Missionário americano prepara invasão a terras indígenas com povos isolados, dizem lideranças” – e em 27/03/2020, na página oficial do Instituto Socioambiental (ISA), com a seguinte chamada “Em meio a pandemia, indígenas do Javari denunciam ameaças de missionários a isolados”

A invasão à sede da Univaja é fato. As ameaças feitas poderão ser realidade amanhã. Até hoje o Governo Federal não tomou providências, mesmo acionado pelo Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas. Este caso é grave pela conduta invasora dos missionários, por ocorrer na eclosão da pandemia do novo coronavirus, envolver vários grupos indígenas e indígenas isolados, e por ignorar o protocolo nesta área conduzido pela Coordenadoria-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC).

A este episódio inaceitável, soma-se o assassinato do professor Zezico Rodrigues, do povo Guajajara, no dia 31 de março, na Terra Indígena Arariboa, município de Arame, no Maranhão. Zezico, que era diretor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru, na aldeia Zutiwa, e defensor do território tradicional do povo Guajajara, foi morto a tiros. São 49 guajajaras mortos desde o ano 2000, cinco ocorridos entre o final do ano passado e março deste ano.

A Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) denuncia à sociedade brasileira e à internacional a onda de ameaças, de invasões e assassinatos de indígenas no Brasil, a inação do Governo Federal na tomada de providências efetivas, o que o transforma em cúmplice e se traduz em reforço à impunidade;
Manifesta solidariedade à direção da Univaja, aos povos Korubo, Marubo, Matis, Matsés, Tukuna e Tsohum-Dyapa, e aos indígenas isolados, ora agredidos e ameaçados; ao povo guajajara, vítima de massacre, e à família de Zezico Rodrigues; e de todas as famílias indígenas órfãs da violência consentida.

Nossa voz une-se ao grito dos indígenas pelo direito à vida e a garantia das terras e da cultura indígenas no Brasil.

Nesta causa, marcharmos juntos!

Manaus-AM, 02 de abril de 2020

Assinam a nota:

Associação das Mulheres Indígenas do Rio Negro (AMARN)

Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas

(ADUA)

Conselho Indigenista Missionário (Cimi Norte I)

Federação Kokama TWRK

Fórum de Mulheres Afro-Ameríndias e Caribenhas

Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena (Foreeia)

Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (MUSAS)

Mandato Popular Deputado Federal José Ricardo

Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas

Serviço de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental na Amazônia (SARES)

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJP-AM)

Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya)

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