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sexta-feira, março 29, 2024

Noemia Ishikawa conta vivências científicas com estudos de cogumelos em Live da 500 Women Scientists

A organização global 500 Mulheres Cientistas (500WS), fundada em 2016, tem a missão de servir a sociedade, tornando a ciência aberta, inclusiva e acessível

Da Redação – Inpa

Estudiosa dos cogumelos há 30 anos, a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Noemia Kazue Ishikawa, cultivou o desejo pela ciência e pelos cogumelos ainda na infância observando as vivências da família em sítios no interior do Paraná. Para contar um pouco da trajetória de pesquisadora, nesta quinta-feira (24), Ishikawa participará da Live Pod Manaus sobre Mulheres cientistas na micologia, do projeto “500 Mulheres Cientistas Manaus”, com transmissão às 18h pelo canal do instagram @500wsmanaus.

Do lado paterno, o avô Kinzo Ishikawa atuava com granja. Do outro, o avô materno Nobuo Komagome, foi um dos primeiros a cultivar shiitake no estado. A curiosidade da criança e o encantamento de ver as mudanças na rotina de trabalho dos avós, após a implementação de achados técnicos-científicos, inspiraram Ishikawa a entrar na Universidade. De lá pra cá são anos de pesquisas no Brasil, no Japão e nos Estados Unidos com cogumelos, inicialmente com espécies japonesas e depois com a biodiversidade Amazônica.

“Minha infância foi em um sítio, numa casa de madeira cercada de granjas de galinhas poedeiras. Desde muito pequena eu acompanhava as tarefas do meu avô, Kinzo Ishikawa. E ele fazia coisas que eu não entendia. Por exemplo, acendia as luzes das granjas às 4 horas da manhã e de tempos em tempos dava pedrinhas para as galinhas comerem. Naquela fase de criança dos ‘Por que, por que, por que…’ meu avô era a minha principal vítima e ele terminava dizendo que era porque os cientistas pesquisaram que era melhor fazer daquela forma”, conta a pesquisadora.

Ishikawa é bióloga por formação, mestre em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Environmental Resources pela Hokkaido University – Japão, com pós-doutorado no The Tottori Mycological Institute (Japão) e na Clark University (Estados Unidos). Atua na área de micologia, trabalhando com biologia e fisiologia de fungos formadores de cogumelos; cultivo de cogumelos comestíveis (fungicultura) e busca de novos compostos antimicrobianos de origem fúngica. Atualmente, é coordenadora da Pós-Graduação em Ecologia do Inpa. Produziu diversos livros de difusão e popularização da Ciência.

“Na década de 1970, todos os dias, todos os ovos eram lavados. Um dia o técnico da cooperativa chegou e falou para o meu avô que os ovos não deveriam ser mais lavados. Imediatamente vovô parou de lavar milhares de ovos por dia. Aquilo foi uma grande mudança no sítio, minha curiosidade foi imensa e não desgrudei do meu avô querendo saber os porquês de parar de lavar os ovos. Então ele me explicou que os cientistas viram que os ovos lavados apodreciam mais rápido. Nesse dia achei esse tal cientista incrível e comecei a sonhar em ser uma cientista”, relembra Ishikawa.

Além de pesquisa em laboratório e orientação de alunos, Ishikawa tem forte atuação no campo e na etnomicologia – conhecimento do papel dos fungos pelos Yanomamis em Roraima e Amazonas, a exemplo dos cogumelos comestíveis e os fungos Perisi, uma estrutura similar a uma fibra que é usada em cestaria (comercializada como artesanato), respectivamente. Outra frente de trabalho da pesquisadora é a educação e popularização da ciência.

O reconhecimento é visto em inúmeros trabalhos científicos do Grupo de Pesquisas Cogumelos da Amazônia que lidera, sequenciamento do genoma da Lentinula raphanica, descoberta de 26 novas espécies de cogumelos na Amazônia e duas espécies com atividade microbiana, com potencial de uso farmacêutico e/ou no combate de fitopatógenos, primeiro cultivo de Lentinula raphanica no mundo, e honrarias. Em 2017, recebeu o grau de comendadora da Ordem do Mérito do Judiciário do Trabalho e foi uma das ganhadoras do Prêmio Jabuti, na categoria Gastronomia, com o livro que alia o conhecimento científico e o tradicional “Ana Amapö – Cogumelos Yanomami”.

No ano passado, o “Projeto Aldevan Baniwa: semeando histórias indígenas da Amazônia”, que Ishikawa coordena junto com a pesquisadora do Inpa, Ana Carla Bruno, foi selecionado entre os 10 finalistas do Prêmio Jabuti no Eixo Inovação: Fomento à Leitura em 2020. O projeto busca realizar conexões entre saberes tradicionais e saberes da academia científica, fortalecer as línguas indígenas e valorizar a biodiversidade da Amazônia por meio de publicações e distribuição de livros infantis e técnico-científicos em diversas línguas indígenas e não indígenas. Aldevan Baniwa, infelizmente, faleceu em 2019 em decorrência da Covid-19.

500 WomenScientists

A Live Mulheres Cientistas na Micologia desta quinta-feira será mediada por Jucimara Gonçalves, egressa do Mestrado em Agricultura no Trópico Úmido do Inpa e atual professora do curso de Agroecologia na Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

A 500 Women Scientists (500WS) ou “500 Mulheres Cientistas” envolve mais de 20 mil mulheres voluntárias das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em grupos locais (Pods) de mais de 100 países. Um Pod é um capítulo local do 500 Mulheres Cientistas. O nome Pod é uma referência a um grupo de orcas ou golfinhos, que significa para a 500WS o poder do trabalho em equipe e a colaboração eficazes para promover a mudança.

O movimento de base iniciou por quatro mulheres que se conheceram na pós-graduação na Universidade do Colorado em Boulder. Logo após as eleições de 2016 nos Estados Unidos, elas publicaram uma carta aberta para reafirmar seus comprometimentos na defesa da ciência, das mulheres, das minorias, pessoas com deficiências, imigrantes e da comunidade LGBTQIA+.

“O objetivo do movimento coletivo do 500WS é tornar as instituições científicas igualitárias e justas, para que todas e todos possam alcançar todo o seu potencial na ciência. Os Pods estão abertos a todas as mulheres e minorias de gênero que apoiem a missão e os objetivos do 500WS, seguindo os princípios JEDI: Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão”, explicou a coordenadora do núcleo de Manaus do 500WS, a doutora em Ecologia pelo Inpa, Helena Aguiar, que pesquisa as grandes aves de rapina, incluindo o gavião-real (Harpia harpyja).

Em grupos locais (Pods), as integrantes procuram desenvolver uma rede de apoio, planos estratégicos e agir conforme a missão do grupo. O empoderamento das mulheres para crescer na ciência, o aumento da alfabetização científica e a defesa da ciência e a equidade estão na missão do 500WS.

Banner – 500wsmanaus

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