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sexta-feira, março 29, 2024

Nova tecnologia para produção de juvenis de Matrinxã

Em andamento, estudo científico analisa a Tecnologia de Bioflocos como uma alternativa para aumentar a produtividade da espécie

O matrinxã, a segunda espécie mais importante da piscicultura do Estado do Amazonas, tem dois grandes problemas: a reprodução induzida que só ocorre por estímulos ambientais, limitando entre os meses de setembro a março e a elevada taxa de canibalismo, com cerca de 80% de perda da prole.

Para melhorar a produção do matrinxã, uma pesquisa desenvolvida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Amazonas Estratégico, vem desenvolvendo pesquisas tecnológicas para disponibilizar ao produtor uma nova alternativa de produção da espécie.

A pesquisa é coordenada pela doutora em Ecologia e Recursos Naturais, Elizabeth Gusmão, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que vem avaliando a Tecnologia de Bioflocos (BFT) para as espécies nativas de interesse da piscicultura, o matrinxã.

A tecnologia tem como vantagem a utilização de um espaço reduzido para a criação, uma boa gestão dos recursos hídricos por empregar uma quantidade mínima de água, além da elevada produtividade. Com isso, a tecnologia tem sido considerada uma alternativa promissora para uma aquicultura sustentável, que engloba a alta produtividade, a manutenção da qualidade da água, as elevadas densidades de estocagem, a maior resistência às doenças e uma fonte proteica extra como alimento, possibilitando rações com menor nível de proteína, consequentemente, menor custo de produção.

Conforme citado pela pesquisadora, a larvicultura do matrinxã é um problema sério na região, devido à baixa produção de juvenis e a alta taxa de canibalismo na fase larval. Nesse período, o índice de mortalidade pode atingir até 80% da produção, o que reflete no custo para o consumidor final.

Segundo Elizabeth Gusmão, com este projeto espera-se diminuir a taxa de canibalismo nesta espécie, definir a melhor densidade de estocagem durante a fase inicial de desenvolvimento (larva e juvenil) e diminuir o nível de proteína na ração, gerando maior lucratividade para o produtor no Amazonas. “Durante o período de desova natural da espécie, o produtor de alevino utiliza hormônios para estimular a reprodução artificialmente, mas isto não é possível fora desta fase (setembro a março), sendo um entrave para a cadeia produtiva do matrinxã. Além disso, imagina perder 80% de cada reprodução decorrente do canibalismo da espécie na fase larval. Como consequência, criar matrinxã se torna muito caro, principalmente para o pequeno produtor, que perde o interesse na sua produção”, explica a pesquisadora.

Com tecnologias que venham diminuir estes entraves, o produtor poderá ser estimulado a criar esta espécie, de grande interesse comercial, defende Elizabeth Gusmão. “O matrinxã tem várias vantagens para sua criação, principalmente porque possui hábito onívoro, o que exige menor teor de proteína da ração, além de utilizar o alimento natural disponível no viveiro, possui alto valor de mercado, e uma cadeia produtiva bem desenvolvida. Entretanto, precisamos testar novas tecnologias que possam ser viáveis para melhorar o processo produtivo dessa espécie no Amazonas, tornado-a mais competitiva e viável para o setor”, explicou.

Líder do Grupo de Pesquisa Aquicultura na Amazônia Ocidental, a doutora Elizabeth explica que as larvas de matrinxã eclodem 10 a 13 horas após a fertilização dos ovos e o canibalismo tem início 25 a 36 horas pós-eclosão, sendo considerado período crítico para a espécie. Apesar dos vários estudos com o objetivo de aumentar a taxa de sobrevivência das larvas desta espécie, os resultados obtidos ainda não são suficientes para garantir maior oferta de juvenis. “Pelo que já temos de conhecimento, o bioflocos pode ser uma grande saída. Primeiro por mudar a cor da água, ou seja, torna a visibilidade praticamente impossível entre os peixes no período larval, fase mais crítica do canibalismo, além das vantagens já citadas. Essa é uma proposta bastante desafiadora para o grupo de pesquisa, envolvendo o histórico de uma espécie com elevado canibalismo, apesar das informações já existentes na literatura que vem contribuindo nesta área do conhecimento. O projeto é dividido em três etapas realizadas em bioensaio no laboratório, sendo a primeira a diminuição do canibalismo, seguida das questões relacionadas à alimentação e densidade das larvas e juvenil de matrinxã, encerrando com a validação desses resultados no campo”, detalhou.

Grupo de Pesquisa

O projeto conta com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais da área de reprodução, larvicultura, nutrição, sanidade, fisiologia e bioquímica, sistema de produção, fisiologia do comportamento, além de alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado), graduação, bolsistas de apoio técnico e Pós-doc. “Esses profissionais, certamente, irão contribuir para que os objetivos propostos neste projeto sejam desenvolvidos em mais alto nível, gerando resultados que possam ser aplicados nas pisciculturas comerciais do amazonas e toda a região Norte do país”, afirmou.

Capacitação – Segundo a pesquisadora Elizabeth Gusmão, a capacitação neste projeto é outro grande objetivo do grupo que pretende em expandir os conhecimentos nesta área sobre BFT. Todos os conhecimentos gerados no projeto serão repassados por meio de material didático e cursos de extensão aos técnicos e produtores do Estado no fim do desenvolvimento dos estudos. “O compromisso com o produtor é essencial para garantir que os recursos disponibilizados pela Fapeam sejam revertidos em benefícios à sociedade, gerando lucro ao produtor e menor custo ao consumidor”, enfatiza a pesquisadora.

Além disso, a pretensão do Grupo de pesquisa é transformar o projeto em um Programa, que inclui a continuidade de novas pesquisas e recursos disponíveis para desenvolvê-las. “Todos os resultados poderão ser disponibilizadas à sociedade por meio de uma página na internet, bem como outras informações relevantes que envolvem desenvolvimento do sistema com tecnologia de bioflocos para espécies amazônicas”, acrescentou.

FOTO: DIVULGAÇÃO/FAPEAM

Contato da pesquisadora: Elizabeth Gusmão -981750930

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