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terça-feira, abril 16, 2024

O ocaso de uma festa?

por Eduardo Gomes

Bom dia! Leio aqui no FB a proposta de reduzir para dois dias o Festival Folclórico de Parintins. Deixando de lado as manifestações apaixonadas principalmente pelos parintinenses criadores da festa, há de se fazer uma reflexão.

bois bumbasA ideia de reduzir de três para dois dias não é nova. Ela foi aventada a partir de 2003, quando introduziram a primeira mudança, deixando de ser realizada nos tradicionais dias 28, 29 e 30, para a última semana do mês de junho.

O Festival Folclórico de Parintins que até a metade da década de 80 era uma festa circunscrita aos Ilhéus se agigantou. Ganhou visibilidade a partir do momento em que o Governo do Estado decidiu investir no evento e a bem da verdade, com a propagação da festa pelos movimentos que representam os Bumbás em Manaus, Movimento Marujada e Amigos do Garantido. Por conta disso Parintins recebia uma horda de visitantes.

Veio o apogeu na década de 90. O Brasil conheceu a festa através das transmissões ao vivo da festa, gravação de CD por uma gravadora multinacional, a Polygran, a vinda de formadores de opinião de vários Estados, o extinto Grupo Carrapicho com o hit Tic, Tic, Tac pelo país afora e exterior, artistas globais, entrada do patrocinador máster, a multinacional Coca Cola, enfim todas as condições foram dadas para que a festa que encanta os olhos e ouvidos tivesse dimensões nacionais e internacionais apesar da caríssima logística para se chegar a uma festa no interior da Amazônia, ainda hoje desconhecida pela maioria dos brasileiros, onde caboclos produziam a sua ópera. Mais ainda: O Festival Folclórico de Parintins acabou contribuindo para que o Amazonas assumisse a a festa como identidade cultural, embora muitos torçam o nariz. Do tablado rústico de madeira os bumbás foram para a arena de concreto armado, o bumbódromo de onde se agigantou.

Hoje a visão da orla de Parintins coalhada de barcos muito bem captada pelo nosso amigo/irmão Paulo Sicsu é coisa do passado. Entrou para a história e lembrança de quem foi testemunha. Como é passado também a rivalidade saudável entre os torcedores azulados e encarnados, as ruas enfeitadas demarcando territórios bovinos, as toadas com letras simples, mas de grande significado retratando a alma cabocla parintinense.

Não esqueçamos que Parintins acabou exportando o modelo do Festival para outros municípios, inclusive com adaptações em outras manifestações culturais como a Ciranda de Manacapuru, Festival do Peixe Ornamental em Barcelos e a Festa do Boto em Novo Airão só para citar alguns.

Mais ainda, Parintins exportou para orgulho nosso, artistas para ajudarem na produção do carnaval no Rio de Janeiro, São Paulo, Festa da Uva no Rio Grande do Sul, ornamentações natalinas no litoral paulista só para citar alguns exemplos.

No entanto, apesar dessa benevolência, os bumbás através das sucessivas presidências não se modernizaram. Não se profissionalizaram. Dormiram em berço esplêndido das generosas receitas orçamentárias cujo o emprego é duvidoso, criando o círculo vicioso de dívidas nunca bem explicadas. Patrocinadores desrespeitados. Quem não se lembra de 2004 quando o presidente mundial da Coca Cola, patrocinadora máster do festival, a caminho de São Paulo decidiu fazer uma escala em Parintins a pedido da esposa para ver apenas uma hora de espetáculo e nada de boi na arena já próximo da meia noite? Das queixas dos executivos das patrocinadoras aos presidentes dos bumbás (das quais fui testemunha de uma das reuniões na sede do Grupo Simões em Manaus)?

A par disso no âmbito do espetáculo aos poucos foram caindo na mesmice. Não há mais novidade nos bois. O elemento surpresa nas apresentações está apenas nas memórias dos que testemunharam. As toadas de letras singelas e rimas fáceis deram lugar a outras mais complexas, melodicamente mais complicadas.

Agora prevalece o interesse financeiro de aventureiros que veem os bumbás como um butim para ser saqueado.

Mas não fiquemos só nos bumbás. A parcela do desgaste da festa tem nos ex-prefeitos sua parcela de contribuição. A partir do momento em que o Governo do Estado assumiu as rédeas do festival, cruzaram os braços. Ficaram na dependência dos investimentos. Não enxergaram e ainda não enxergam um palmo além do muro de arrimo. Vivem do provincianismo maculado por uma politicalha mesquinha que agora está muito presente nos bumbás.

Vale lembrar que em novembro de 2004, Parintins foi classificada pela Embratur cidade de turismo de eventos por conta do festival e o que foi feito para fazer jus a essa classificação? NADA!

Mas não fiquemos só no Festival Folclórico. Parintins é talvez a única cidade do interior a possuir um calendário de eventos. Além do festival de bumbás tem o Carnailha, a encenação da Paixão de Cristo na Semana Santa, as festas dos bois que antecedem o festival, a festa da padroeira do município Nossa Senhora do Carmo, a festa de aniversário da cidade com o festival de toadas, a resistência das Pastorinhas.

São eventos que precisam ser lapidados para se tornarem atrativos para o município e por consequência atrair público de Manaus (ainda hoje o maior emissor de visitante para a ilha) e das cidades próximas.

A mesquinhez e a ignorância política impede que a cidade desenvolva naquilo que é peculiar, folclore e eventos. A prova está aí: ex-prefeito e prefeito se digladiando através dos microfones das emissoras de rádio onde cada um imputa a culpa no outro. Todos têm a sua parcela de responsabilidade, prefeitos, vereadores, dirigentes de bumbás, enfim a sociedade como um todo e aí vale lembrar um pequeno detalhe: Desde a construção do Bumbódromo, Parintins é o município mais beneficiado dentre todos do Estado por causa do seu festival. Isso é fato! Não há como contestar.

A culpa não é do Governo. Muito já se fez por Parintins. Se não souberam aproveitar as inúmeras oportunidades, paciência. É uma pena que aos poucos a festa vai perdendo seu brilho por conta da irresponsabilidade e falta de compromisso com o município e o seu povo, este sim o maior prejudicado.

Extraído de seu perfil do Facebook:https://www.facebook.com/eduardogomesam/posts/10200652256906900?fref=nf&pnref=story

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