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quinta-feira, março 28, 2024

Olavo de Carvalho, o ‘parteiro’ da nova direita que diz ter dado à luz flores e lacraias

BBC Brasil

Quando se mudou há alguns meses para que sua casa fosse reformada, o escritor e filósofo Olavo de Carvalho fez questão de levar toda a sua coleção de armas para a residência temporária, no sul do Estado da Virgínia (EUA).

Sobre a cama onde dorme, afixou uma espingarda Remington calibre 12. No cômodo vizinho, ao lado de uma caixa com brinquedos, espalhou mais de 30 rifles de caça. Em frente à mesa onde trabalha, pendurou pistolas e revólveres.

É dali que Carvalho faz as transmissões diárias de seu curso de filosofia, escreve para cerca de 500 mil seguidores nas redes sociais e trava os embates que o tornaram uma das figuras mais conhecidas e controversas da corrente que vem sendo chamada de nova direita brasileira – grupo ao qual, paradoxalmente, diz não pertencer.

“Eu quis que uma direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê”, afirma. “Estou contra o comunismo e quero que o Brasil tenha uma democracia representativa efetiva”, diz.

Nascido em Campinas (SP) há 69 anos, professor de filosofia sem jamais ter concluído um curso universitário e adepto da teoria de que a “a entidade chamada Inquisição é uma invenção ficcional de protestantes”, Carvalho acumula desafetos com a mesma intensidade com que é defendido por seus admiradores.

O filósofo recebeu a BBC Brasil na casa modesta de dois andares onde está morando num bairro arborizado de Petersburg, cidade histórica com 30 mil habitantes. Crítico feroz do PT, ele reagiu à queda de Dilma Rousseff com ceticismo. No Facebook, escreveu que o impeachment não passou de uma “manobra para a salvação da classe política”.

Elogia Michel Temer ao mesmo tempo em que diz considerar seu governo ilegítimo. “Sem dúvida, é melhor que a Dilma – pelo menos sabe falar português, é um homem de uma certa cultura – e não se pode negar que na área econômica está fazendo aguma coisa que tem de fazer mesmo.”

Mas diz que, vice na chapa de Dilma, o presidente “não tem rabo preso, ele é um rabo preso”, e que a dupla se reelegeu num pleito com “transparência nenhuma”. “O governo é 100% ilegítimo. Não estou dizendo que há ou houve fraude eleitoral, o sistema que montaram já era uma fraude.”

Estrutura de poder

Expulso o PT do governo, Carvalho diz que a direita brasileira começa a se organizar nas ruas. Perguntado a que se deve a transformação, responde em francês: “C’est moi” (Sou eu).

Segundo o escritor, foram seus livros que encorajaram outros conservadores a sair do armário. Mas ele diz que o país ainda não tem uma “representação institucional da direita”, como jornais diários, universidades ou partidos que defendam o liberalismo econômico e valores tradicionais.

“Você tem de um lado 20 partidos de esquerda e do outro um ou outro cara que se diz de direita, mas nem sabe direito o que é isso”, afirma, entre goles de café e cigarro entre os dedos.

Segundo Carvalho, a esquerda dominou a imprensa e as universidades brasileiras há várias décadas em estratégia que seguia o suposto ideário do marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937). O objetivo, diz ele, era criar uma “atmosfera mental” em que a população se tornasse socialista sem perceber.

“No fim, conquistaram tudo: os partidos políticos um por um, eliminaram todas as opções possíveis através de denúncias de corrupção, queimaram milhares de reputações, ficaram sozinhos no meio do campo e conquistaram a cereja do bolo, a Presidência da República”, diz.

O filósofo afirma que “atualmente é obrigatório estar na direita”, mas que não mantém “compromisso com nenhuma política em particular”.

Para ele, mais importante que tirar o PT do poder é “quebrar o sistema” e implantar no Brasil uma “democracia plebiscitária”, em que o governo submeta suas propostas a referendos constantes. O filósofo diz que o modelo foi aplicado na França por Charles de Gaulle, nos anos 1960.

Filósofo mora atualmente em Petersburg, cidade com 30 mil habitantes vizinha a Richmond, no Estado de Virgínia
Filósofo mora atualmente em Petersburg, cidade com 30 mil habitantes vizinha a Richmond, no Estado de Virgínia
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