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sexta-feira, março 29, 2024

Plantas amazônicas podem auxiliar no tratamento de inflamações uterinas e obesidade

Em andamento, o estudo avalia a utilização das plantas Jucá, Carapanaúba e o Uchi-Amarelo no tratamento das doenças

O Jucá, a Carapanaúba e o Uchi-Amarelo, que são plantas medicinais nativas da região amazônica, estão sendo analisadas por pesquisadores do Amazonas com o objetivo de avaliar a utilização delas nos tratamentos de inflamações uterinas e no manejo adjuvante da obesidade. A pesquisa científica é desenvolvida por pesquisadores do Departamento de Química da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O estudo conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio por meio do Programa de Apoio à Pesquisa – Universal Amazonas, edital Nº 002/2018, que financia atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas de conhecimento, que representem contribuição significativa para o desenvolvimento do Estado do Amazonas.

A coordenadora do projeto e doutora em Química Orgânica Rita Nunomura, explica que a proposta do estudo é fazer a caracterização química das espécies vegetais, que consiste especificamente em identificar quais são os tipos de substâncias e o princípio ativo que se encontram nas plantas que foram selecionadas para os testes laboratoriais, e, a partir daí, verificar o potencial biológico dessas substâncias através de estudos de atividade antioxidante, antimicrobiana, citotóxica e no combate à obesidade.

Validação científica – Segundo Rita, na Amazônia, o uso popular de plantas medicinais está inserido na cultura regional, mas alerta que o uso indiscriminado de plantas para o tratamento de doenças sem qualquer comprovação científica pode ser perigoso, uma vez que muitas dessas plantas podem não apresentar a atividade biológica preconizada, ou seja, não apresentar a atividade para a qual é indicada popularmente, podendo até mesmo serem tóxicas.

“Por esse motivo é de fundamental importância que tanto os estudos químicos quanto o das atividades biológicas dessas espécies sejam realizados para validar o uso medicinal dessas espécies de plantas”, alertou

Ensaios biológicos – A coordenadora explica que a análise química para isolar e identificar os principais constituintes químicos presentes nas espécies vegetais está sendo feita no Laboratório de Abertura de Amostras e Ensaios Químicos da Central Analítica da Ufam em parceria com o Inpa , e a partir dessa investigação, conjuntamente com os parceiros, realizar os ensaios biológicos.

“As espécies vegetais Carapanaúba, Uchi-Amarelo, cujo principal componente é a bergenina, assim como o Jucá, estão sendo estudados pelo grupo de pesquisa e os resultados são bastante promissores, indicando diversas propriedades, dentre elas, anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana”, explica a coordenadora.

A pesquisadora ressalta que mais estudos precisam ser realizados para a comprovação e validação dessas espécies como medicinais e que esse projeto visa dar continuidade aos estudos com essas espécies abordando de uma forma multidisciplinar a química e a farmacologia dessas espécies vegetais.

“A caracterização química dessas espécies vegetais pretende, ainda, desenvolver métodos de análise e obtenção do perfil metabolômico dessas amostras, possibilitando futuramente, que essas espécies sejam reconhecidas cientificamente como medicinais, bem como de fitoterápicos quem venham a ser desenvolvidos”, detalha Rita.

Estudos aprofundados – A parte da pesquisa que trata sobre a farmacologia abordará estudos de atividade antimicrobiana, antiproliferativa e inibitória de enzimas mediadoras da inflamação, a fim de avaliar o potencial para o qual são indicadas, que envolve o tratamento de miomas, cistos, endometriose, além de outras inflamações uterinas.

“Considerando que algumas dessas espécies têm indicado potencial inibitório de enzimas relacionadas à obesidade, estudos mais aprofundados através de testes in vivo também serão realizados a fim de verificar o potencial dessas espécies para o combate à obesidade”, disse.

O grupo de pesquisa acredita que o projeto deve contribuir para o desenvolvimento científico da região na agregação de conhecimento, no desenvolvimento tecnológico para o desenvolvimento de futuros produtos a partir de plantas amazônicas medicinais.

Pesquisa em etapas – A coordenadora da pesquisa explica que os estudos tiveram início em 2016 e parte da identificação dos constituintes químicos e atividade antimicrobiana devem terminar em 2019.

Primeiramente é feita a coleta das espécies vegetais, com seleção e limpeza das partes colhidas, depois passa para os processos de secagem, moagem e peneiramento, até formar uma espécie de serragem. Esse material é reservado em frascos de vidros com solventes (Etanol ou Metanol) que é um álcool que tem o poder de extrair várias classes de substâncias, exatamente por ele ser orgânico ter a capacidade de extrair substâncias apolares e também as de alta polaridade.

“O material fica por vários dias imersos no solvente e depois filtra esse material, descarta a serragem e concentra o extrato removendo os solventes em rotaevaporador”, contou.

Segundo a pesquisadora o extrato concentrado é submetido a sucessivos fracionamentos até chegar até uma substância isolada. Em seguida as frações são testadas para verificar quais delas apresentam potencial antioxidante, antimicrobiano e citotóxico.

Rita Nunomura explica que os testes in vitro para identificar as atividades citotóxicas e antimicrobianas serão realizados em parceria com a UFMS, através das Dras. Simone Schneider Weber e Renata Trentin.

A coordenadora esclarece que os estudos neste projeto envolvendo caracterização química e ensaios de atividade biológica a serem realizados são o pontapé inicial, uma vez que indicam o potencial biológico dessas espécies.

A pesquisadora esclarece que para o desenvolvimento de um produto seguro ainda são necessários vários estudos com diferentes parceiros, envolvendo outros ensaios biológicos e ensaios clínicos. A divulgação desses resultados busca despertar o interesse de mais pesquisadores e empresas para o desenvolvimento dos mesmos e para validação dessas espécies popularmente. Além disso, contribui para a valorização dos produtos da região de forma que desperte o interesse no uso sustentável da floresta Amazônica.

“Entre os resultados obtidos, temos a caracterização química de frações ricas em substâncias fenólicas das espécies Endopleura uchi (uchi-amarelo) e Libidibia ferrea (jucá), bem como a verificação de seu alto potencial antioxidante por meio de ensaios químicos realizados. A espécie Aspidosperma nitidum (carapanaúba) também tem demonstrado potencial antioxidante e inibitório de enzimas relacionadas com o Sistema Nervoso Central (SNC), possivelmente devido à presença de uma classe de substâncias comumente encontrada no gênero, que são os alcaloides”, disse Rita.

“Os estudos da obesidade com a espécie E.uchi têm demonstrado o potencial de redução de sobrepeso nos animais testados, bem como nos níveis de colesterol em comparação com animais que não receberam tratamento. O estudo também tem demonstrado que a espécie também apresenta potencial profilático, inibindo o ganho de peso mediante a indução da obesidade nos animais testados” explicou a pesquisadora.

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