O adenocarcinoma é o tipo mais frequente de câncer de pulmão, sendo mais comum em fumantes e ex-fumantes, mas que também pode acometer não-fumantes. As chances de sucesso no tratamento dependem das características biológicas do tumor e da fase em que a doença é descoberta
Durante a condução do programa Mais Você, da TV Globo, nesta segunda, dia 27, a apresentadora Ana Maria Braga revelou ter sido diagnosticada com um adenocarcinoma de pulmão e, com isso, abriu uma oportunidade para discussão sobre a importância do diagnóstico de cada tipo de tumor pulmonar e da personalização do cuidado ao paciente.
O adenocarcinoma é um subtipo de câncer que, ao investigar suas células, o patologista identifica que elas se assemelham a elementos glandulares. Cerca de 40% dos casos de câncer de pulmão são do tipo adenocarcinoma, sendo este o mais comum entre os tumores malignos que acometem este órgão. Cerca de 4 entre 10 casos de câncer pulmonar são do tipo adenocarcinoma1.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados aproximadamente 30 mil novos casos anuais de câncer de pulmão no Brasil, sendo o segundo mais comum entre os homens e o quarto mais comum entre as mulheres, mas com a maior taxa de mortalidade por câncer entre os dois sexos 2. Em todo o mundo, segundo o levantamento Globocan, da OMS, são registrados mais de 2 milhões de novos casos de câncer de pulmão e mais de 1,7 milhão de mortes por ano pela doença3.
O patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e do Departamento de Anatomia Patológica do A.C.Camargo Cancer Center, Felipe D´Almeida Costa, conta que a agressividade depende do estágio em que o tumor se encontra. A probabilidade de os pacientes estarem vivos em até cinco anos após o tratamento, para os casos mais iniciais, quando a doença está localizada, pode chegar a 85%.
Quando o diagnóstico é feito em estadio IV, a fase mais avançada da doença, as taxas de sobrevida caem para cerca de 15%. Um dos desafios desta doença é justamente que a maioria dos pacientes ainda são diagnosticados nos estadios avançados, em contraste, por exemplo, ao câncer de mama, onde graças às estratégias de rastreamento, os tumores são identificados geralmente nos estadios iniciais.
D´Almeida ressalta ainda que tratamento pode compreender muitas modalidades, incluindo cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia. “Estas modalidades podem ser usadas em conjunto ou isoladamente, dependendo de cada caso. É importante ressaltar que todo tratamento tem suas indicações próprias e seus efeitos colaterais peculiares. Os efeitos adversos da quimioterapia são diferentes dos que ocorrem com a imunoterapia e radioterapia, mas não necessariamente eles são mais agressivos”, explica.
Ainda segundo o patologista, é fundamental que se faça a classificação correta de cada subtipo de câncer, pois assim é possível oferecer a ele o melhor protocolo de tratamento, aumentando assim as chances de cura. Atualmente, todo paciente portador de adenocarcinoma de pulmão tem indicação de realizar uma análise molecular de seu tumor, pois dependendo das alterações genéticas encontradas, há alternativas específicas de tratamento, as chamadas terapias-alvo. Para as neoplasias que não dispõem de um alvo molecular específico, há evidências de que a combinação de quimioterapia e imunoterapia seja a melhor opção para o início do tratamento.
COMO TRATAR O ADENOCARCINOMA DE PULMÃO
Em linhas gerais, o protocolo para tratamento de adenocarcinoma de pulmão preconiza as seguintes condutas:
– O tratamento do adenocarcinoma de pulmão depende do estágio. Para doença em estágio inicial, a cirurgia é o tratamento de escolha.
– Para doenças avançadas, uma combinação de cirurgia, quimioterapia e radiação é utilizada, também para controlar a dor e outras complicações.
– O uso de terapia direcionada pode prolongar a sobrevivência, mas é necessário um maior investimento, pois são medicamentos de alto custo. São as chamadas terapias-alvo (medicamentos especialmente desenhados para atingir alvos moleculares específicos) e as imunoterapias (que usam o próprio sistema imunológico do paciente).
– Muitos pacientes com câncer de pulmão requerem acrescentar uma abordagem paliativa para controle de dor e outros sintomas.
– A radioterapia pode ser utilizada para manejar metástases ósseas e cerebrais.
Referências bibliográficas
1 – Myers DJ, Wallen JM. Cancer, Lung Adenocarcinoma. 2019 Jan 11. StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2019 Jan-. Availabl from http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK519578/.
2 – Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Rio de Janeiro: INCA, 2017.
3 – Bray F, Ferlay J, Soerjomataram I, Siegel RL, Torre LA, Jemal A. Global cancer statistics 2018: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. 2018;68(6):394–424.
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